quarta-feira, 13 de novembro de 2013

15. Conto: Geraldinho, o homem feliz!

(por Raquel Lisboa)


Sr Geraldo era um homem baixinho e meio corcunda devido aos excessivos esforços que fizera na juventude quando trabalhava na roça.

galinhasEita, homem engraçado e feliz! Se chovia, ficava contente... Se fazia calor, também ficava... Se fizesse frio era melhor ainda, porque poderia passar mais de uma semana sem tomar banho!

O caso é que como ele era aposentado e não tinha nada para fazer, vivia arrumando “moda” para ocupar o tempo, pois não suportava ficar parado.

 Certa vez, ele comprou uma dúzia de galinhas caipira para criar no quintal da casa. O quintal era grande, mas ocupado por sete famílias (entre filhos e inquilinos).

Era gozado como as pessoas “de fora” se comportavam ao entrar no quintal, pois a maioria imagina que os anfitriões tenham um cachorro ou um gato de estimação, mas galinhas?

E as bichinhas recebiam os visitantes na maior alegria! Era um tal de có, có, có por todos os lados! Muitas vezes elas até presenteavam os sapatos com aquela pasta desagradável que todos sabem muito bem o que é.
Eu mesma já pisei em várias destas feitas por cachorro, mas de galinha caipira dentro de uma cidade, só mesmo na casa do Sr. Geraldo.

 Lembro-me que um dia, ao chegar a casa do velho senhor, o vi tristinho e murmurando:
- A gente cuida dos filhos com carinho, prá depois eles crescerem e mandar na gente!

Eu, fiquei brava. "Ai, ai, ai, se algum filho do Sr Geraldo o desrespeitou, vai ouvir "poucas e boas", pensei. 
Condoída com toda aquela tristeza, perguntei:
- O que aconteceu, Sr Geraldo? Parece que o senhor está um pouco “aperreado”? - ( gosto de falar nordestinês de vez em quando, mas sou paulista) – O que fizeram com o senhor?

- Os meninos não querem deixar eu fazer o que eu quero! Trabalhei mais de cinquenta anos na roça e blá, blá, blá.... ( Sabe como é, né? Não me diga que você não conhece ninguém assim?)
Eu estava quase chorando ao ouvir a trajetória de toda a sua sofrida vida... ( Afinal de contas para quem não sabe, o sinônimo de escritor é sensível). Tudo bem... Sou chorona, mesmo... E daí?

Duas horas depois, eu até tinha me esquecido o que precisava fazer por ali e não ousava interrompe-lo porque o pobrezinho estava tão triste de fazer dó. De repente, o velhinho para e respira e nesse exato momento,eu perguntei: ( senão teria ficado por lá a semana inteira, ouvindo os seus desabafos)

- Mas afinal de contas o que seus filhos não deixam o senhor fazer? - interroguei meio alterada, pois se algum deles lhe faltasse com respeito, ía se ver comigo, ah, se ía...

Ao enxugar as lágrimas com um lenço, o senhorzinho respondeu:
-Imagine que eles não querem me deixar comprar uma vaca para fazer companhia prás galinha????

Não ri. (Tudo bem, eu ri só um pouquinho disfarçadamente porque ele estava perto, né? Quando ele virou as costas gargalhei, mesmo!)



Continua.
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Sr Geraldo, Dona Anita e meu
bebê João Victor

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