terça-feira, 9 de julho de 2013

7. Crônica: O meu nome é Apelido

(por Raquel Lisboa)

           Eu não sei quanto a você, mas eu particularmente não gostava de apelidos até compreende-los melhor. Explicarei o motivo. Existem apelidos que é a redução do nome e torna-se até mesmo uma maneira carinhosa de tratamento. Ex: Alexandra = Xanda; Roberto=Beto; Gabriela=Gabi; etc.
          Minha mãe me chama de Quel e quando me trata pelo meu nome, minhas pernas tremem, minhas mãos transpiram e me dá uma batedeira danada no coração.
          Tudo bem que sou grandinha, mas para a minha mãe dar bronca não tem idade. Confesso que quando era criança era melhor, porque levava umas palmadas, chorava um pouquinho e tudo se resolvia.
         Agora, depois de adulta, minha mãe somente fala... E fala... E fala... E garanto-lhe que quando começa o sermão, não tem hora para acabar. Esse é o primeiro motivo pelo qual não gostava de apelidos.
          O segundo é porque dependendo do dito cujo, me confundo toda. Vou explicar.
Um dia, quando chegava do trabalho, encontrei um conhecido de meu marido na rua, que falou:
-Raquel, pede para o seu marido me ligar... Ele tem o meu número.
Respondi:
-Tudo bem. Darei o recado.
Ao chegar, escrevi um bilhete e pendurei na  porta da geladeira:
"AMOR, LIGUE PARA O GAIVOTA"
  Meu marido chegou do serviço e perguntou:
-Quem é Gaivota?
-Como assim, você não sabe? Seu amigo... - argumentei estressada.
-Meu bem, desculpe-me, mas não tenho nenhum amigo com esse nome - afirmou meu marido.
-Tem sim, e não queira saber mais do que eu. - relutei.
-Não tenho não - falava ele.
-Tem sim - dizia eu.
         Iniciou-se uma discussão e só faltava a gente tirar cara ou coroa para resolver aquela situação. Até que o meu marido teve uma ideia e a colocou em prática:
-Raquel, diga-me, como é esse homem?
-Bem... O Gaivota é alto, tem as pernas finas e um narigão cumprido... - descrevi.
-Já sei! - exclamou sorrindo.
-Viu só, como você tem um amigo chamado Gaivota? Depois quer saber mais do que eu... - respondi, vitoriosa.
-Acontece que ele é chamado  de Garça e não de Gaivota... - explicou sorrindo.
Olhei-o seriamente (detesto quando estou errada) e argumentei:
-Garça ou Gaivota, é espécie de ave, não é? Então é tudo farinha do mesmo saco. O nome dele é Gaivota, e pronto!
           Outro dia aconteceu a mesma coisa. Um homem pediu para eu mandar lembranças para o meu marido:
-Amor, você sabe quem eu vi? - indaguei.
-Quem?
-O Noel... Ele mandou-lhe lembranças. - respondi.
Meu marido ficou pensativo:
-Noel, Noel, Noel... Não conheço nenhum Noel...
-Claro que conhece... O pai da Maricélia, da Maria, da Marinês, da Marineide...
-Ah, sei... Não seria o Natal?
Bem, não se pode acertar todas, não é?
        Foi aí que fiquei completamente inconformada com apelidos. Até que cerca de um mês, perguntei para um outro colega do meu bofe:
-Neco, me responde uma coisa?
-Pode falar...
-Qual é o seu nome verdadeiro? Sabe, não gosto de apelidos e a partir de agora só tratarei as pessoas pelos seus respectivos nomes.
-Ah, não vou dizer - respondeu encabulado.
-Por favor, me diga... - repliquei.
Ele tirou o RG da carteira e mostrou-me: ARARAQUIDES DEMÉTRIUS. Não ri para não ficar chato, mas fiquei completamente desconcertada. Sem saber o que dizer, comentei:
-Belo nome.
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