6. Crônica: Os mais velhos sempre tem razão?

(por  Raquel Lisboa)

          Você já levou a sua avó alguma vez para fazer exame de fezes? Se nunca, parabéns. Você é uma pessoa de muita sorte. Se já, então estamos no mesmo barco.

        Sabe aquela história ou ditado de que os mais velhos sempre tem razão? Então... Minha avózinha  levava isso muito a sério:

- Mas vó... - dizia eu.

-Fique quieta minha filha. Você não sabe de nada... Ainda está nos cueiros e quer ensinar missa ao vigário, é?

Bem... Um dia, a minha avó precisava levar amostra de fezes ao posto de saúde e por não gostar de andar sozinha, chamou a minha mãe para fazer-lhe companhia. Minha mãe, muito esperta, já conhecendo a figura, passou essa missão para mim.  Se fosse nos dias de hoje, mandaria meu filho João Victor.

          Eu não queria ir, mas fui educada a obedecer os mais velhos, e até hoje sou assim, principalmente quando se trata de minha mãe.

       Então, fui à casa de minha avó chamá-la para irmos ao posto. Minha surpresa começou quando vi um pote de margarina doriana (daquele redondo), sobre a mesa, dentro de uma sacolinha transparente.

       Não perguntei o que era - pois sabia que levaria uma bronca se perguntasse - simplesmente acompanhei a velhinha ao posto, que estava lo-ta-do.

          Ao chegar, a minha avózinha entregou o pote de margarina para a moça da recepção, que agradeceu sorrindo:

- Não precisava... Obrigada! É doce?

Minha avó respondeu:

-Não minha filha... É fezes mesmo...

          A recepcionista ficou desconcertada e cochichou baixinho para não chamar a atenção:

- Mas minha senhora... É muito... Olhe, a amostra de fezes precisa ser colocada num potinho desses - a moça mostrou o material adequado.

Não sei se todos os idosos são assim, mas a minha avó sempre falou alto:

-Não minha filha... Esse potinho aí não dá nem para o buraco do dente. Eu sempre gostei das coisas com fartura...

A mocinha estava vermelha e eu mais ainda. Afastei-me e fingi que não estávamos juntas. Minha avó sorria da moça e chamou-me: 

-Raquelzinha, olhe aqui o tamanho do potinho que a moça quer me dar para as fezes...

Eu não respondi, fingi que não ouvia.

-Você está surda? - Todos no posto me olharam. (Que vergonha!). Dei um sorrisinho para concordar com a velhinha e iniciou-se no posto de saúde uma negociação que durou duas horas.

          Depois, fomos para casa. Eu estava aliviada por sair dali e a minha avó feliz. O pote de margarina com fezes finalmente foi aceito. Pode ser que nem sempre os mais velhos tem razão, mas digo-lhe uma coisa: a minha avó, sempre tinha.

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Imagens retiradas de: http:// google imagens (contando história)