2. CRÔNICA: Quando tudo dá errado

(por Raquel Lisboa) 

          Talvez você tenha escutado que uma desgraça nunca vem só. Eu concordo plenamente e explicarei o motivo.

Bem... Numa bela segunda-feira, depois de um dia de trabalho, cheguei em casa morrendo de saudades do meu computador. 

      Meu desapontamento começou quando percebi que o pobrezinho não ligava, e o pior de tudo era que todos meus trabalhos acadêmicos, inclusive um que seria entregue dois dias depois, foram para o beleléu. 

Quase perdi os originais da minha primeira obra da Trilogia Amazonas Mulher de Honra*, e isso só não aconteceu porque tinha uma cópia salva no meu pendrive.

          Minha pressão baixou e subiu, minhas pernas amoleceram e meu coração disparou.

Não resisti, gritei:

-Nããããããooooo!

Logo, meu marido entrou em casa desesperado:

-O que houve? Você está bem?

Respondi aos prantos:

-Claro que não estou bem... Se estivesse não estaria assim... (é óbvio) - Aconteceu uma tragédia...

-Não me diga que a Dona Maria** faleceu? Pobrezinha... Mas também do jeito que ela estava... - suspirou meu marido com voz chorosa.

-Não. Ela não morreu. Está melhor...

-Graças a Deus... suspirou aliviado - E então? Ah! Já sei. Foi o Senhor Florêncio***... Também com um tumor daquele tamanho na cabeça e...

-Não, não foi isso... Meu pc, foi ele que morreu...

-Menos mal... Poderia ser pior (odeio essa frase)... Olhe meu bem... Se você pensar nisso, ficará triste e não resolverá nada. Ocupe sua cabeça com outras atividades... Que tal lavar roupas? Amanhã levaremos o computador para o concerto.

          Só não protestei, porque realmente o cesto de roupas sujas estava repleto. 

Quando as coisas estão ruim, o melhor a fazer é relaxar, contar até dez,  pensar numa música e ocupar-se com alguma atividade. 

Na falta de algo interessante, fui lavar roupas.

          Separei as brancas das coloridas e iniciei meu trabalho, que era só separá-las mesmo. O resto fica por conta da máquina de lavar.

 Aproveito a oportunidade e faço uma homenagem a pessoa maravilhosa que criou tal invento. Deus abençoe o ser que inventou a máquina de lavar... Acredito que foi uma mulher.

          Pois bem... Eu estava conformada, quando de repente a máquina fez um barulho que não era normal. Querido leitor, minha amada máquina de lavar pifou. E o pior é que não concluiu a lavagem. Resultado: Respirei fundo e fui para o tanque, sorrindo por fora e me roendo por dentro.

Depois, o João Victor (meu filho) chegou da escola, com aquele papo de criança:

-Mamãe, me leve ao Mc?

Olhei-o seriamente e retruquei:

-Não.

-Por que?

-Porque estou ocupada...

-Você prometeu... ( Nunca prometa algo para uma criança. Elas NUNCA esquecem )

-Outro dia a gente vai... - finalizei a conversa. 

-Faz um mês que você diz a mesma coisa... respondeu o garotinho ressentido, com uma tristeza enorme no olhar - Você não me ama...

Criança conhece o ponto fraco dos pais e possui uma grande inteligência. Não me lembro de ser assim quando era pequena, e olhe que não faz tanto tempo assim...

          Bem... Adivinhe o que aconteceu? 

Minha consciência pesou. Eu estava com um vestidinho verde, todo manchado de cloro (sabe essas roupinhas que nós mulheres usamos para fazer serviço doméstico), um chinelo havaiana cor-de-rosa e com um coque na cabeça.

         Além da roupa que precisava terminar de lavar, tinha também que  fazer comida e arrumar a casa, porque afinal de contas, no outro dia levantaria cedo para trabalhar.

Irritada, fui ao Mc Donald's com ele do jeito que estava, pois decidi que não desceria do carro.

          Ao chegar, como o combinado, meu marido estacionou numa rua e me perguntou:

-Você vai aguardar aqui mesmo?

Respondi:

-Sim. Não estou vestida para andar por aí...

No momento que meu marido descia do carro, apareceu dois "flanelinhas" bêbados:

-Oi Doutor! Fique tranquilo que a gente cuida do carro do senhor...

Subitamente, meu marido olhou-me e disse:

-Tem certeza de que não vai descer?

Resumindo: Desci e confesso que nunca me senti tão popular. Todos me olhavam.

          Foram muitas emoções naquele dia: Computador quebrado (com meus preciosos trabalhos acadêmicos), máquina de lavar pifada (repleta de roupas sujas e molhadas)  e ainda, andei pelo Centro Comercial toda mulambenta ( eu não ficaria no carro acompanhada com dois bêbados).

Mas tudo isso serviu como aprendizado.

Aprendi que: Quando as coisas estão ruins, a tendência é piorar... 

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* Trilogia Amazonas - Mulher de Honra - disponível para download gratuito por tempo limitado aqui mesmo no blog (logo mais acima). 
** Dona Maria é nossa Vizinha e está mais viva do que eu.

***Senhor Florêncio era nosso vizinho. Faleceu mês passado com 98 anos.

Imagens retiradas de: http://www.araucaria.net.br/tag/mcdonalds/ e

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